28 de maio de 2009

I See You

Ele entrou na sala e o nick era parecido com o meu. Ambos intitulados bi, mas com o decorrer da conversa, estava claro que queríamos distância de mulheres. A identificação foi imediata. Tínhamos mais em comum do que os relacionamentos anteriores. Só a gente que não sabia.

Você já passou a madrugada inteira conversando com alguém? A gente passou várias. O papo era informal e cuidadoso. Com o passar dos dias, carinhoso.

Num domingo frio, eu liguei. Já se passavam semanas, promessas, fotos, webcam e apego. Quando ele atendeu, automaticamente foi aprovado no último teste: homem de voz grave e suave. Respirei fundo e marquei um encontro.

De longe, eu o vi. Fui me aproximando com a perna tão bamba que dei uma tropeçadinha. Puro charme. Quando nos cumprimentamos, eu bati a mão no peito dele com segundas intenções.

Andamos por um tempo, conversando, até chover. Sugeri ir para o carro. Lá, pedi para abrir o porta-luvas e surpresa: o chocolate favorito dele estrategicamente colocado por mim. Nosso primeiro abraço me fez sentir seguro.

Com a chuva lá fora, ele deitou no meu colo e ficou de olhos fechados. Minhas mãos estavam nos seus cabelos. Muita coisa passou por mim nessa hora, mas a única que prevaleceu foi o beijo que eu dei como se quisesse dizer finalmente te encontrei.

E no meio de tanta gente...

21 de maio de 2009

I Seek You

Tive internet com 14 anos. Na época era escassa e extremamente vigiada (logo, tentadora). Foi nessa ocasião que entrei pela primeira vez num site gay. Toda minha curiosidade e tesão adolescente eram vertidos para um monitor de baixa resolução.

Eu não me permitia nenhum contato com o meio real. Tanta confusão e hormônios fizeram da internet o meu menu de ajuda. Se eu tinha alguma dúvida, eu buscava respostas virtuais.

Ao longo dos anos eu vi ICQ virar MSN, Cadê virar Google e bate papo do UOL virar caça de putaria. Sempre uma coisa por outra. No mesmo fluxo, fui trocado por um médico casado e troquei um bipolar por amor-próprio. Tava na hora de conseguir alguém de verdade. E me vi novamente recorrendo à internet.

Felizmente, eu queria demais. A resposta para meu alívio parecia diferente de um encontro sexual dentro de um carro desconhecido cinco minutos depois. A frustração era proporcional ao número de contatos bloqueados.

Mas aí, ele entrou na sala...
Bem-me-quer [enter]
Mal-me-quer [enter]

14 de maio de 2009

Time goes by...

Você conhece um cara muito gente fina numa festa. Onde? Não importa. Em quais circunstâncias? Tampouco faz diferença. Mas você o conheceu, o papo foi jóia e ele é realmente gente fina. E bonito.

Mas e se você não sabe (como eu) se ele curte ou não, você dá uma lida aqui. E se você já sabe não tem muita importância porque depois é tudo muito parecido.

Será que ele vai me adicionar no orkut? Eu devo esperar quantos dias para aceitar? Ou será que não faz diferença mais esse tipo de euforia pós first sight? E o depoimento? Eu deleto ou deixo por lá, pra ele saber que significa algo pra mim?

É (muito) dificil mas o gostinho de dar espaço pra ele respirar e ver que pra ele tanto espaço já não é mais necessário faz toda diferença.

Sentir esse espaço diminuir entre ele e eu, então, valeu cada ansiedade virtualmente real que eu senti num final de semana só.

[for those who wait...]

Obrigado ao Hugo Campello, nosso amigo virtual, pela sugestão a partir de um episódio bem comum pra rapazes como a gente. :)

8 de maio de 2009

Sem filtro

Eu me apaixonei por um cara que eu tive por 2 dias. Quando ele sumiu, eu não sabia quem culpar. Ele, covarde, ou eu, burro. A verdade é que ele foi a primeira pessoa que me mostrou o quanto sou inseguro.

Bastante tempo depois, me deixei envolver com outro cara completamente diferente de mim. Se psicologicamente nada ali funcionava, fisicamente então o negócio era um desastre total. Como você teve coragem? Meu namorado me perguntou outro dia. E aí tudo isso foi contado.

Quando eu estava do lado dele, não sentia muita coisa que fizesse uma relação valer a pena. Mas o tanto que ele me desejava, admirava e fazia questão de falar o tempo inteiro me curou de um amor que estava distante, não era covarde e pertencia a mim mesmo. Meu amor-próprio.

Às vezes, quando contamos uma história, utilizamos um filtro capaz de amenizá-la de possíveis traumas não-curados. Afinal, ouvir é absorver. Ao mesmo tempo, falar é descarregar. Agora eu sei que falar sem filtro é entender.

Água e sabão.

5 de maio de 2009

Os Motivos

Você é um cara no auge da sua juventude sexual. Aparenta ter 27, mas tem 32. Tem um carro do ano bacana e ninguém sabe que você é gay. Daí você descobre seu nicho para desprender suas ansiedades: procurar na madrugada. Randomicamente. Abordar homens em pontos de ônibus é mais fácil que cair na noite.

Numa noite dessas, você passa por um grande via às 2:15 da manhã e se depara comigo. E me faz o convite. Eu recuso. Você insiste. Eu declino com mais firmeza. Você vou embora e eu fico pensando boa motivos:

Pra ele me abordar:
1. Eu tô muito gostoso! Devo usar mais à combinação sport-fino jeans e camisa lilás.
2. Ele é tão carente que meu sorriso só ao ser abordado, deixou ele sem outra saída.
3. Sou tão patético que só rapazes de certa quase-idade se interessam.
4. Ao virar à esquina, ele pensou: "O primeiro pinto que me aparecer, eu pego."

Para eu declinar:
Artigo Único. Não sou para qualquer um. Não to com o peru no lixo e mereço mais que uma foda na virada da próxima avenida.

Parei de pegar ônibus nas madrugadas.

"or some part of yourself that you just can't love?"
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